...

Conversas, cotidiano, artes, fazedors de artes, cultura, cidadania, são temáticas imbricadas no nosso caminhar e, por isso, passarão por aqui. Aberto a contribuição de todas as pessoas sintonizadas conosco... sejam bem-vindos!

quarta-feira, 31 de março de 2010

olhar de quem faz...


No primeiro dia de espetáculo, ao término, papeei um pouco com RONALDO ARAÚJO, militante do teatro em Palmas que muito representa para a cultura do Tocantins.Ronaldo é ator, diretor teatral, poeta. Sua caminhada no teatro começou na prática, em 1979 na peça "O Cangaço". Depois foi para Rio, fez uma Oficina com Hamir Haddad.Voltou para Fortaleza e montou a peça "Velhos Moços" de sua própria autoria, momento em que se lançou como diretor.Passou por Piauí e montou o "Santo Inquérito" de Dias Gomes, dentre tantos trabalhos montados. Quando mudou para o Tocantins, fundou, juntamente com amigos, o grupo "Gente de Teatro" em Miracema.De lá prá cá, dirigiu e atuou em muitas peças teatrais, rodando pelo Brasil e participando de oficinas teatrais com respeitados nomes do teatro brasileiro. Na literatura venceu editais de poesia e mantém uma página literária na internet que carrega parte de seus textos em prosa e verso.Porque tive vontade de saber um pouco mais de suas impressões, externei a vontade através de email. Acabo de receber dizeres seus, que abaixo publico:


LN: Sei que você é "história viva" do teatro do Tocantins. Pra nós, foi uma grande satisfação tê-lo na platéia no dia de estréia. Nós recém-chegados na capital e poder contar com seus "olhos" e "olhares" no primeiro dia. Poderia nos dizer das suas impressões?
RONALDO ARAÚJO: Então. Gostei muito do espetáculo, e por vários motivos.
Primeiro vocês foram arrojados artisticamente em apostar numa proposta ousada, onde a dança passa a ser uma linguagem aberta para outras possibilidades contemporâneas. Depois, porque conseguiram dar uma estética encantadora à temática escolhida, utilizando-se da dança, da interpretação e da palavra, criando uma dramaturgia coreográfica. Senti falta somente de um diretor de cena. Não sei quem dirigiu e como dirigiu, mas, senti falta do olhar de uma direção de cena.


LN: Na sua opinião, qual o maior entrave para a formação de platéia em Palmas?
RONALDO ARAÚJO: Esse é um problema crônico das artes cênicas em Palmas. Criação de platéia... Para mim, o maior entrave está na pouca produção de espetáculos e na falta de incentivo nas escolas e nas empresas. Palmas é uma cidade anticultural por natureza. Por isso, é preciso esforços redobrados para levar público aos espetáculos. Daí a necessidade de camapanhas e movimentos em prol da formação de platéia.

LN: O espetáculo TORRE NEGRA tem conseguido de forma "guerrida" circular pelo interior do Estado, foi para o Sul do Brasil e agora ruma para o Norte...o que você considera de mais grandioso nessa iniciativa de vocês?
RONALDO ARAÚJO: A coragem e o investimento de cada pessoa envolvida no projeto, pois não contávamos com nenhum recurso e montamos acreditando na importância do produto. Esperar por recursos para poder montar seu trabalho aliena o artista. Creio que é possível montar bons espetáculos pela força dos próprios artistas.


LN: A nossa realidade aqui em palmas, no setor artístico, é ainda de cumprir a terceira e quarta jornada de trabalho, porque ainda não enxergam o "ator" enquanto um profissional qualificado e sim, um "mero" brincador da representação. Sei que vocês do Torre Negra ensaivam de madrugada, porque cada integrante assumia outros compromissos de trabalho. Conosco, no NA PALMA DOS OLHOS, não foi diferente, trocando das madrugadas de vocês, pelo terceiro turno. Nosso! Comente um pouco sobre essa questão da profissionalização do setor das artes cênicas?
RONALDO ARAÚJO:Essa realidade é um pouco cruel e um pouco romântica, pois como podemos observar isso sempre aconteceu no mundo das artes. Artistas têm que se desdobrar, pois precisa lutar para sobreviver e para fazer sua arte, pois nem sempre a arte dá as condições para que seu trabalho flua naturalmente em horários normais, vamos dizer assim. Isso ainda vai continuar assim por muito tempo, mas precisamos lutar por condições adequadas de trabalho. Precisamos nos organizar, dar direção à nossa carreira, enfim, profissionalizar o nosso trabalho, mas, para isso, precisamos estar devidamente preparados como classe reconhecida na sociedade, o que ainda vai levar alguns anos, principalmente aqui no Tocantins.

terça-feira, 30 de março de 2010

eterna novidade, um heterônimo de Pessoa

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo.
(ALBERTO CAIERO)

segunda-feira, 29 de março de 2010

artes, surdez, clausura?

A cada verso, um reverso. Tenho me surpreendido positivamente, com a postura dos profissionais da Escola de Campo João Beltrão em Palmas-TO, o que acaba reverberando no comportamento dos alunos. Um achado no "mapa" que longe de ser vitrine, é o caminho mais perto, vejo, de se cumprir os direitos culturais. No dia 25/03/2010, tive um papo muito proveitoso com o professor Farias. Algo que seria pecado se não o registrasse. Ainda mais porque no calor da conversa, a bibliotecária Aurenice, da mesma escola, de forma espontânea, entrou na conversa e soltou uma verdadeira pérola: "Eu acho que o teatro combate um pouco dessa clausura, abre portas pra um mundo prazeroso e ele (o surdo ou qualquer homem) se sente mais valorizado como ser humano."


LN: Farias, você foi um dos professores que assistiu ao espetáculo acompanhando 45
alunos da Escola de Campo João Beltrão - Palmas/TO. Fale um pouco sobre essa iniciativa?

Farias: Despertar no aluno a curiosidade, o gosto, o interesse e valorização do profissional que atua no teatro. Nesse contexto, percebi que o alunado, antes de ir ao teatro, tinha uma visão meio equivocada do que era um espetáculo. Após assistir ao espetáculo de vocês, os alunos sentiram vontade em atuar como um ator, como atriz. E externaram essa vontade. Isso foi um lado positivo que eu vi dessa ida ao teatro.Também foi positivo pelo contexto que eles moram, na zona rural, por não terem essa oportunidade. Como a escola possibilitou esse momento através da sua colaboração enquanto professora da escola, isso enriqueceu muito a próprio aprendizagem deles, levando em conta, que isso vai refletir nas demais disciplinas curriculares. Tem uma aluna na escola que está idealizando no momento cultural daqui, atuar no palco, porque a professora de teatro despertou nela, essa vontade de estar no palco Ela viu a professora no palco junto com outros artistas, se inspirou também quer experimentar. Na saída do teatro, ela me disse "professor, um dia eu quero apresentar no SESC".

LN: No âmbito escolar, você percebeu algum reflexo positivo dos alunos após essa ida ao teatro?Farias: Sim. Estou organizando um momento cultural na Escola João Beltrão, com a temática poesia, onde vai entrar a questão da expressão corporal, do lúdico e diversas atividades. Para esta apresentação, os alunos estão se inspirando naquilo que assistiram. É a subjetividade deles que fala mais alto. É o natural dos alunos que vai falar alto, mas isso, são resíduos de tudo que já leram e assistiram. Ter assistido vocês, vai ser muito positivo aqui para nós enquanto escola, enquanto educadores de outras áreas do conhecimento. Muito rico, valioso demais! E pra mim, enquanto professor de línguas e linguagens também foi assim, uma oportunidade para eu explorar mais a questão da linguagem corporal que faz parte da linguagem português, até mesmo porque eu sou professor especializado em libras. Percebo que o teatro tem fundamental importância para a gente que trabalha com alunos e pessoas com surdez.

LN: Meses atrás, comentei com os integrantes do nosso grupo que Diego Molina, artista convidado para estar conosco no próximo trabalho, o SOL NOS OLHOS, dirige um grupo teatral no Rio, os “Inclusos e os Sisos”, cujo trabalho permeia por essas minorias da sociedade. Agora, fico surpresa dessa sua visão, da colaboração das artes cênicas para com os surdos. Fale um pouco sobre isso?
Farias: Na minha especialização que fiz no Rio, eu atuei no teatro com libras numa peça teatral contracenando com alunos surdos. A minha parceira era uma aluna. Dentro dessa apresentação nós dançávamos forró e mesmo sem ela ouvir nada, ela sentia a vibração, sobre um tablado. Da vibração sobre o corpo da pessoa. Eu conduzia os passos e a fala era a libra. É um dos maiores Institutos do Brasil, onde estudei, o INES. Eliene, as expressões corporais e faciais que vocês fazem, fizeram no palco, já facilita as pessoas com surdez. Por exemplo, você com aquela cara, fisionomia de uma pessoa com raiva, ele, o surdo, entende. Aquela demonstração, aquela cena, que você joga água no corpo, demonstrando bastante calor, ele entende. O que ele não vai compreender no teatro e precisa de intérprete é na hora da linguagem verbal. Quando lá no espetáculo, você falou “Palácio do Araguaia, endereço novo e endereço antigo”, ali, enquanto sujeito socialmente dito, você acabou com a comunicação dele com os atores. O espetáculo para ele foi assistido em parte, não como um todo, entende¿ Pra você se situar, Palmas hoje, tem aproximadamente mais de seiscentas pessoas com surdez que a habitam e que estão inseridas em todos os contextos palmenses: escola, teatro, feiras, cinema, num momento político, numa reunião, supermercado, fazendo compra...Tudo corpo a corpo. O real é o mais importante. Se você vai falar da lua e você faz o sinal da lua, ela não compreende. Porém, se você pegar a figura e mostrar, ela compreende. Por isso que o teatro enriquece muito, porque ele mostra a realidade e o concreto. E é o concreto que possibilita o aprendizado do aluno. Se você for buscar esse diagnóstico em relação ao IBGE você não encontrará. Mas junto à Secretaria da Educação, tanto Municipal, quanto Estadual, você encontra. Tais informações foram colhidas da através da fala de um profissonal especialista em libras. Uma outra fonte de pesquisa são as igrejas. O padre Aloísio faz missa utilizando intérpretes. As Testemunhas de Jeová, faz um trabalho interessantíssimo: eles alfabetizam. As artes, saiba, estão ficando para trás. Aqui em Palmas, principalmente a Canção Nova e a Testemunha Jeová estão desempenhando um papel importante nesse sentido. Elas buscam, tem a preocupação de integrar o sujeito na sociedade. Aqui em Palmas, inexiste trabalho teatral com intérprete de libras, porque não tem profissionais. E se vocês fizerem isso no próximo trabalho, saiba, será algo inédito e inovador.

LN: É mesmo? Pois eu havia sonhado isso em janeiro para o próximo trabalho, pensando no Molina! em lutarmos por angariar recursos e levarmos um intérprete para o palco.
Farias: Pois se vocês fizerem isso, repito, será inovador e inédito. Eu apoio e garanto que eu mesmo levo uma parcela grande de surdos para assisti-los. Porque pra eles é complicado...

LN: Você disse que atuou na gerência da educação especial do Município de Palmas no período de 2005 a 2008. Nesse período, tivemos no ministério da Cultura, Gilberto Gil que teve atuação marcante de forma positiva na área cultural do país. Você percebeu algum impacto, alguma influência ou mudança, visto que a educação está imbrincada com a cultura?
Farias: Aconteceu um movimento muito bom em Palmas nessa época, que envolveu a comunidade no geral. Foi um dos projetos que achei mais bacana, algo cultural de mudar visões, concepções. Mas da área da cultura em específico, não acompanhei, o meu foco eram políticas educacionais inclusive para implementar e implantar polícias educacionais inclusivas...Teve uma coisa tão engraçada que a gente fez nessa época que foi um chamamento da sociedade palmense para esta questão da surdez. Fomos na rua, na Av. JK. Fizemos panfletagem chamando a sociedade pra abraçar a causa das pessoas por conta da deficiência. Fizemos intervenções teatrais no terminal rodoviário. Foi assim, levamos cadeira de roda, bengalas e utilizamos os passageiros. Fizemos a simulação nas cadeiras de rodas. Sugeríamos também aos motoristas para que eles sentassem nas cadeiras, para eles sentirem na pele as limitações. Esse projeto foi denominado PRIMEIRA SEMANA DE SENSIBILIZAÇÃO SOBRE AS PESSOAS COM DEFICIENCIA.

LN: Sou curiosa a respeito desse termo "Inclusão". Para muitos, soa como exclusão. Me fale um pouco sobre esse termo.
Farias: Uma coisa que eu não gosto de falar é que você tem que se colocar no lugar no outro. Não, não gosto de falar isso pra ninguém. Não, não tem que se colocar no lugar do outro, você tem que pelo menos tentar compreender aquele momento que o outro passa, que o o outro vive...Eu coloco isso muito nas minhas palestras...como esse cara que não tem braço e perna, faz suas necessidades fisiológicas?...Você tem que tentar entender e compreender ...por isso que eu acho que esse termo inclusão deveria ser substituído por INCLUSAO-HUMANIZAÇÃO.

Professor Farias é graduado em Letras pela Fundação Universidade do Tocantins - UNITINS, especialista em Libras pela UNITINS, e em educação especial na área da deficiência auditiva (Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES-RJ). Pós-graduado em Gestão Escolar – UFT. Atualmente é professor de Língua portuguesa no sistema municipal de ensino, professor da faculdade UTOP . Atuou como gerente de educação especial na prefeitura municipal de palmas (2005-2008)

sábado, 27 de março de 2010

um pouco de Garcia Lorca, para o povo ir além dos "parabéns"

Não gosto de datas comemorativas. Algumas, apenas balelas e motivo para encher de pão e suco, a pança do povo... Reconheço que muitas simbolizam marcos e conquistas. Avanços. O tempo passa, a gente fica com cabelos brancos e enternece com algumas "lembranças", com algumas comemorações que tentam o fazer valer do "bem-comum", do "desenvolvimento" de um lugar. Nesse exato momento, 10:53h do dia 27 de março de 2010, me transporto em pensamentos para São Paulo, no Centro de Convivência Waly Salomão do Complexo Cultural Funarte, onde, daqui há sete minutos, iniciará a MANIFESTAÇÃO DAS ARTES CÊNICAS para celebrar o Dia Internacional do Teatro e o Dia Nacional do Circo. Será, pelo que li nas programações, uma manifestação em prol da cultura do país, com a participação de Sérgio Mamberti, militante das artes cênicas que muito admiro pela sensibilidade artística e pelas iniciativas positivas que tem feito para a classe teatral, enquanto atual presidente da Funarte.

"Será proposta uma moção de apoio pela aprovação no Congresso Nacional de projetos da área cultural que tramitam nas duas Casas do Poder Legislativo, como o Sistema Nacional de Cultura (SNC); o Plano Nacional de Cultura (PNC); a PEC 150/2003, que vincula à Cultura 2% da receita federal, 1,5% das estaduais e 1% das municipais; e o Programa de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura), que atualiza a Lei Rouanet; além do Vale-Cultura, primeira política pública governamental voltada para o consumo de bens e serviços culturais."(COMUNICAÇÃO SOCIAL/MINC em 25.03.2010, site www.cultura.gov.br)

Um brinde ao Teatro não só pelo seu dia! mas por ser um instrumento de comunicação. Por ser talvez, a arte que mais sobrevive no tempo, porque jamais permite que o elemento "homem" seja substituído por qualquer "aparato", fruto dos avanços tecnológicos. Nesse dia "festivo", muitos nomes são lembrados. E com apreço, elejo dizeres de GARCIA LORCA que fez da sua caneta e papel, a arma poderosa para "acordar" um povo de um momento vivido. E parte do seu legado cumprido, fica o seu alerta "um povo que não ajuda ou fomenta seu teatro, se não está morto, está um moribundo"

quarta-feira, 24 de março de 2010

sobre a arte


"A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro - mais bonito ou mais intenso ou mais significativo, ou mais ordenado - por cima da realiade imediata. (...) Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das idéias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo (...)." (FERREIRA GULLAR)

terça-feira, 23 de março de 2010

poema do nadador, alerta para o dança-ator?

"A água é falsa, a água é boa.
Nada, nadador!
A água é mansa, a água é doida,
aqui é fria, ali é morna,
a água é fêmea.
Nada, nadador!
A água sobe, a água desce,
a água é mansa, a água é doida.
Nada, nadador!
A água te lambe, a água te abraça,
a água te leva, a água te mata.
Nada, nadador!
Se não, que restará de ti, nadador?
Nada, nadador." (JORGE LIMA)

parafraseando Jorge de Lima, teço, abaixo, reminiscências de um tempo que passou...retiro do balaio antiga!...mistura das agruras do ofício da educação. Não sou porta-vozes, fui memória viva do passado. Ano! O descaso com "fazedores-de-arte" na educação. Daqueles "inducados" e "inculcados" que pensam que trabalhar com artes nas escolas é brincar de casinha no quintal. No fundo do quintal, onde sobra aquele pequeno canto que ficam os entulhos...aquele pequeno canto esquecido que você começa a brincar e para isso, precisa limpá-lo...a preparação do terreno. Mas quando o terreno começa a ser preparado, o dono da casa encabula, encanta, inspira. Compra novo brinquedo para o filho, apenas para botar os dedos no canto esquecido. Bota entulho. Que desbota... As artes, nas escolas, graças as Deus que hoje mudou. Não é mais aquele pequeno canto que tinha uma função: estravazar! Estravazar no canto mofado, as energias contidas da meninada...Estravazar a campanha política dos polidos que sorriem com dentes de espelho. Espelhos se quebram...e quebraram! Um passado que ficou pra trás. E deixou apenas reminiscências de pensamentos, porque a ruptura "di-gestão" educacional, estudei, percebi, entendi, transformou num passe de mágica, o cantinho pequeno esquecido e colocou nos holofotes os educatores, as educatrizes, as educanrinas e os educanrinos. Viçosos! Todos num só coro, na palmatória que brilha o avanço de Palmas. O integral modelo, na passarela. Do NADA-a-dor...
A Palmas é acolhedora, a Palmas é arrebatedora.
Dança, Edunçator!
A Palmas é tranquila, a Palmas é enigma
na chuva esfria, no calor ensopa
Dança, Edunçator!
a Palmas é amena, a Palmas é pequena
Dança, Edunçator!
A Palmas cresce, o povo fenece
Dança, Edunçator!
A Palmas te encanta, a Palmas te cansa,
a Palmas te eleva, a Palmas te nega.
Dança, Edunçator!
Psiu, se continuar assim, que restará de ti, Edunçator?
dança, você dança.

Paulo Freire está na net. Palmas o acompanha, "educa" diferente. Solene! Hoje, depois da chuva fria que durou muitas horas e alagou tudo, quem dançava, não dança. Nada!

domingo, 21 de março de 2010

depois de um ano e três dias..."o cabrito que mais berra é o que vive mais"

...releio Boal e repenso que pouca coisa, ou quase nada mudou. Burocracia, burocracia, burocracia! O exacerbado formalismo nos tantos âmbitos do "viver". O entrave do "saber", do "compartilhar", do "movimentar". O ser... E nós que viemos de outras terras e outros sóis??? e nós que estamos pisando no Tocantins? na mais nova capital do Brasil que adotou o antiguíssimo "modelo" do sistema? E nós que militamos no município de Palmas, cujos burburinhos soltos no ar, revelam que aqui, a burocracia é entrave não só na seara cultural, mas e principalmente, na área da educação municipal??? Nós podemos colocar a boca no trombone???? Não, não, não...Calma, calma, calma...Respire fundo, confira o extrato bancário, dê uma olhada para quem está do seu lado, sorria para seu chefe de trabalho. Feche os olhos, reze e reflita comigo "com esse discurso você não vai longe...aqui, tudo funciona assim. É normal!"."Não pense que você foi ou é o primeiro. Te prepare, fique calada, porque você ainda não é efetiva. Os concursos estão para sair e os contratos demoram muito para serem assinados. É tudo uma questão de ética. Se você é contratado, mas não formalizou o contrato, aguarde...em silêncio. Apenas em obediência! Feche o bico. Diga sim, sim, sim...Os pagamentos atrasam, mas sorria. Pagam tudo direitinho. O maior salário de professores no Brasil. Ora, três meses, quatro meses passam rápido...e veja, você é corado, sorridente, inteligente, bem-humorado. Além do mais, é privilégio para você trabalhar numa escoal com infraestrutura belíssima, um local onde os mais nobres políticos desejariam que seus filhos estudassem. No entanto, seus filhos só não estudam nas escolas públicas, pela tanta demanda e porque é grande a fila de espera para as matrículas". "Vou te orientar: nós, aqui recém-chegados, para não ficarmos roucos, apenas citamos baixinho as frases do imortal BOAL, porque ele sim, virou estrela, falou e fez em vida. Ele sim, corajoso poetaAtor, mesmo diante dos percalços do seu tempo, da censura, do sistema, utilizou-se do teatro como instrumento para alertar e acordar o povo do esbulho do seu tempo. Dele, verdadeiro discípulo de Bertold Brecht, ensinamentos em forma de palavras, a serem refletidos. Semeados, compartilhados... Um mestre ainda vivo na memória! que em março de 2008 conversou com Guilherme Barcellos, numa matéria publicada pelo sítio do MINC que abaixo transcrevo:

"Boal e Turino em BsB
Como acabar com a burocracia?

Por Guilherme Barcellos

TEATRO DO OPRIMIDO 13 MARÇO 15 HORAS MUSEU NACIONAL DE BRASÍLIA

Depois do evento, pergunto ao Mestre Augusto Boal: Qual o próximo passo para acabarmos com a burocracia do seu pesadelo? Ele responde “A paz tem um grande inimigo. A passividade. Temos que fazer alguma coisa enérgica contra a burocracia. Vocês que estão aqui em Brasília devem…” no final eu conto…

Agora do começo: 15h14 abrem-se as portas, mais ou menos 120 jovens na platéia - alunos de um colégio do ensino médio e da Faculdade Dulcina de Moraes, jornalistas, etc. Agitação efervescente, comum aos adolescentes e artistas cênicos. 15h18 começa o vídeo sobre o , mostrando imagens e entrevistas de alunos e multiplicadores do método criado por Augusto Boal, que está no Nepal, índia, África, EUA e Europa. Aqui no Brasil há 60 multiplicadores em 20 grupos que criaram 19 músicas originais e quase 300 peças artísticas: pinturas, esculturas, poesias, etc. Juliana do Nascimento Soares, aluna da Escola Municipal São Bento explicou como sua turma retratou o estandarte do Brasil: “Na bandeira colocamos outras cores, o preto e o sangue pra violência… frases diferentes como ’salve este pais’…a gente expressou ali o que a gente vê no dia a dia.”

Na explicação de Boal, vemos como sua idéia é fomentar a pedagogia ao invés da educação: “educar quer dizer mostrar o que já se sabe, vem do Latim educare = mostrar o caminho, já a pedagogia é colocar o jovem ou outra pessoa em condições de seguir seu próprio caminho”. No site, aprendemos que “o CTO-Rio implementa projetos que estimulam a participação ativa e protagônica das camadas oprimidas da sociedade, e visam à transformação da realidade a partir do DIÁLOGO e através de meios estéticos.” Boal: “Não é preciso ser poeta pra se fazer poesia, mas fazendo poesia viramos poetas. Somos aquilo que fazemos. A plateia abandona sua prisão que são as poltronas e vem protagonizar pois quem protagoniza segura as rédeas de sua vida.”

Foram criadas 22 cenas de Teatro Fórum onde uma pergunta é trazida ao público e ele responde. A realidade é apresentada em cena de cerca de 10 minutos, o espectador assume um dos papéis mas age de forma diferente conseguindo transformar esta realidade. Temas comuns: violência doméstica; abuso de poder na escola - diretoria sobre professores, e estes sobre alunos; discriminação dentro e fora da escola, influência da familia…

Assistimos 3 cenas: 1 - Opressão `a mulher dentro do acampamento dos Sem-Terra. 2 - “A entalada”. Falta de acessibilidade: gorda presa na roleta do ônibus. 3 - “Invasão”: estupro juvenil, tão forte e tocante que ganhou a votação para ser revivida com novas idéias para a menina de 13 anos se safar. A melhor solução, após 3 tentativas e muita discussão, foi apresentada por uma… adolescente de 13 anos que reviveu a personagem mas com a esperteza de não entrar na casa onde ficaria só com seu agressor. Aplausos muitos!

Célio Turino, o Secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura, teve seu momento neste evento. Afinal o MinC tem convênio em vigência com o CTO-Rio, Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto, cujo objetivo é “contribuir para o fortalecimento e a dinamização dos Pontos de Cultura envolvidos na iniciativa, através da capacitação de seus profisionais e/ou calaboradores, para ampliar e diversificar as possibilidades de atuação junto as comunidades circunvizinhas”. Célio não esqueceu seu inseparável chapéu para defender o projeto mais elogiado do ministério, o Programa Cultura Viva como iniciativa que potencializa pontos que já existem, ‘desescondendo’ o Brasil. Oferecendo a possibilidade da cultura trabalhar a união da ética, da estética e da economia. “O Programa ajuda os Pontos de Cultura na busca da solidariedade, colocando todos em rede para não ficarem isolados e sem sentido. Aquilo que fazemos para nós mesmos tem outro sentido para outros, os pontos vão conversando entre si e aprendendo uns com os outros, um contribui com o outro e vamos vendo que neste mar de diferenças há muita similaridade e vamos construindo esta convergência plena como o Teatro do Oprimido.” Agregando novas ações, mestres da cultura oral e tradicional, ligação da escola com a comunidade, ações com a juventude. O foco em 2008 é disseminar a idéia da cultura de paz, e dos pontinhos da cultura, do lúdico da brincadeira, especialmente para as crianças. Transformando este país e este planeta em um lugar que nós tratamos bem e que nos trata bem. Quando estamos bem cuidados cuidamos bem de tudo. Isso que é cultura = cuidar, ter cuidado.

O ponto alto do evento aconteceu exatamente no meio deste: a fala do Boal sobre o que ocorreu há 2500 anos atrás e o pesadelo que teve na noite anterior a esta apresentação. Talvez tenha se inspirado no desabafo do locutor que o precedeu que afirmou ser a burocracia o maior problema da Secretaria que comanda. O mestre nos contou da Grécia onde os camponeses viveram o fato da disciplina ser absolutamente necessária mas tolher a liberdade individual. Para plantar é preciso disciplina, plantio, poda e colheita no momento certo, etc. Assim os camponeses, depois de muito trabalho, se aliviavam cantando contra a religião, o governo e seus meios. O poder não aceitava mas tinha de dar liberdade para esta catarse depois de tanto trabalho. Sólon, grande ditador da época, resolveu dar dinheiro para as poesias e danças, promovendo os Cantos Ditirâmbicos. A primeira violência contra a liberdade. Mesma música e dança, evitando as críticas espontâneas ao sistema.

Como o sambódromo que domesticou o samba carioca, os Cantos terminavam numa grande praça onde os mandantes do governo viam o final da festa. Um dia, Téspis, inspirado coreógrafo e poeta, bebeu um pouco demais, saltou do coro e começou a dizer exatamente aquilo que pensava e sentia, refletindo o pensamento de todos. Sólon, muito elegante, sorriu e não disse nada. Depois, em particular, falou: Você nunca mais faça isso, dei $ para você dizer o que tinha sido ensaiado e você falou contra Deus, contra o Governo! Quem falou não fui eu, defendeu-se o poeta, o que fiz foi hipocrisia (fingindo ser quem não sou), você me viu falar mas eu estava apenas expressando o que todos sentem. Sólon cortou o artista: Quero censurar até sua improvisação da próxima vez. Téspis inventou as roupas os adereços mas não pode mais dizer o que sentia, pois era censurado. O poder sempre tenta censurar o teatro por causa da sua força.

“Nunca falei bem do governo. Pela primeira vez sou a favor do Governo. Defendo o Ministro Gil e o Juca (Ferreira, Secretário Executivo do MinC). Mas mesmo dentro deste bom governo existe a burocracia. Dentro da lei existem seres humanos. Absurda a existência de certas burocracias herdadas da ditadura infame que infectou este país. Meu pesadelo começou com Judy Garland, menininha, dançando pelo jardim e eu passeando naquela coisa lindissima, aquela grama verdissima, maravilhosa. Aí um pitbull entrou no pesadelo, o grunhido do pitbull era como o meu “que criancinha linda”, mas com sentido gastronômico. Peguei uma barra de ferro e fui até lá. Alguém me pega pelo braço, um guarda, que diz “não viu o cartaz? É proibido pisar na grama”. “Eu respeito a lei”, retruquei, “mas me desculpe, pois tenho que salvar a criança”. “Tudo bem, mas primeiro pega autorização na Secretaria de Parques e Jardins. Saí correndo para lá e o funcionário disse que não poderia me ajudar - era hora do almoço! Adiantei meu relógio mas tive de explicar a 3 burocratas, porque cada um respondia que era fulano quem cuidava daquele assunto. Finalmente encontrei o responsável que falou “um fiscal tem de ir comprovar”. Levei o fiscal no colo e vi que o cachorro já tinha comido o braço direito da menina. “O senhor tem razão mas temos que voltar à Secretaria”. Bateu a autorização numa máquina de escrever antiga e foi procurar a pessoa que carimba e assina. Quando voltei ao parque a criança tinha apenas cabeça do lado de fora da boca do cão, estava chorando e pedindo “me salva, me salva”… e foi engolida!”

“Temos que fazer um manifesto contra a burocracia, pois isso é o que acontece em nossa realidade.”

A resposta sobre qual o próximo passo? “Vocês que estão aqui em Brasília devem… descobrir qual a resposta. Vocês estão mais perto!” Tal qual um Mestre Taoísta, Boal nos devolve a pergunta e conclama que sejamos os protagonistas da resposta, mas dá uma dica desconstruindo o ditado popular ‘cabrito bom não berra’. Para Boal: “O cabrito que mais berra é o que vive mais.”



Será?

sexta-feira, 19 de março de 2010

evento é vento...


...recordo-me de Rômulo Avelar quando das suas aulas de produção cultural na UNA, nos alertar para o fato de que se deixarmos que um trabalho cultural se restrinja apenas num evento, ele se esvai. Voa como e com o vento. Não deixa substrato. Se transforma em puro entretenimento. "Evento é vento", ele dizia. Carrego comigo essa máxima desde aquela época. Agora, ruminando todo o processo de construção de NA PALMA DOS OLHOS, desde a escrita dos projetos, ensaios, busca de parcerias, até as quatro noites de apresentação e os comentários do público, fico matutando o quanto foi válido ter soprado essa frase aos ventos da terrinha do sol. Um dos objetivos traçados de NA PALMA DOS OLHOS foi que o trabalho não fosse apenas um evento e sim um "processo" com muitos desdobramentos. Isso foi claramente demonstrado aos nosso parceiros quando da proposta. Agora, a resposta da platéia revela o início de um legado cumprido.Um espetáculo para além de um mero produto cultural, um espetáculo enquanto um resultado de "intenções", cujo alvo é a platéia, um espetáculo por não ser simplesmente um espetáculo. Mesmo com falhas, o que é sempre normal, porque imprevistos sempre são passíveis de ocorrer numa produção artística, o trabalho continua seu processo de construção. Talvez porque foge à linha comercial. Não tivemos na platéia, um sucesso em termos de quantidade de pessoas, mas em termos de qualidade, isso é indubitável. Algumas pessoas assistiram e voltaram para assistir novamente, levando alguém consigo. Outras pessoas disseram que agora sim, entendem que dança contemporânea não é aquilo que ninguém entende. Crianças que nunca tinham ido ao teatro, sonham agora em poder pisar no palco. Quando Paolla, Hellen e Ana aceitaram estar conosco para nos auxiliar na produção, pedi a elas que, dentro das possibilidades permanecessem na ausculta e passassem a olhar com outros olhos tudo aquilo que podeira parecer simples. E todas as noites, depois das apresentações, elas me diziam algo que haviam percebido. Na primeira noite, revelaram que até então, nunca tinham visto em Palmas, aplausos da forma que foi. Dizendo elas, as cortinas se fecharam, as pessoas permaneceram sentadas em silêncio. Abissal. Quando abriram as cortinas, as pessoas começaram a aplaudir e mantiveram os aplausos em pé. Nesta mesma noite, me contaram que Paulo, ator de grande talento aqui do Tocantins, disse-lhes que "agora sim, descobri que gosto de dança contemporânea". E ele assistiu ao espetáculo por três noites. Na sexta-feira, Hellen me disse que fez questão de durante o espetáculo passear miudinho pela platéia. Ficou emocionada ao perceber que as crianças da platéia estavam vidradas, maravilhadas, assistindo ao espetáculo. Paolla também comentou que observou o encantamento das crianças. No sábado, elas perceberam que a platéia estava mais fria. E no domingo, houve um salto, mas perceberam que algumas mudanças no que se refere ao próprio trabalho artístico. Há muita coisa que permeia o trabalho...desde o despertar da platéia, os novos olhos para o ofício. E o contentamento é grande. O ciclo de estréia e temporada se fecha e o convite para reuniões se abre. E Monise, no domingo ainda dentro do teatro, já agendou reunião com a Diretoria de Cultura da UFT. E ontem, foi prazerosa a conversa e o almoço com ela, Cellene, Carol, João. E quando cheguei, as primeiras palavras de Cellene foram a materialização de todos os pensamentos que "pipocavam" desde o início do trabalho. E quando a ouvi dizer que tem a pretensão de ações ao infinito, conclui que de fato, nosso trabalho não foi um evento, porque estamos nos fortalecendo com pessoas com objetivos comuns na tessitura e fortalecimento de uma "trama", de uma "rede", onde cada qual, na sua especificidade, talento, profissão, contribui para a construção de caminhos a serem seguidos por outros. Um outro pilar da arquitetura de Palmas...aberto para o encontro. De pessoas, pensamentos, aspirações. A descontruir e construir. O imaginário. Coletivo!

terça-feira, 16 de março de 2010

para Cláudio Lavôr

...de Boa Vista-RR, fotos de alguns ensaios nas lentes de Rodolfo Ward.









aconteceu!



Depois de quase sete meses de ensaios, NA PALMA chegou aos OLHOS. Do público. No primeiro dia foram aproximadamente 150 espectadores. No segundo, somou-se à platéia um "coro" de 45 alunos da Escola do Campo João Beltrão. Com olhos brilhando de contentamento e pelo gosto grande pelas artes e por experimentar o diferente, deixou energia boa na platéia. E quando as cortinas se fecharam, Carol se emocionou ao ouvir a voz de uma criança “ah não, por favor, fecha não. Termina não”. No terceiro dia, um número minguado de pessoas, para possibilitar o salto da última noite, em que um número maior de pessoas animou a platéia. Presença especial de Helena Katz. Mais um capítulo da história de Palmas, da história de cada membro da equipe, da história de cada um que nos acompanhou das Minas, de Sampa, do Rio, Natal, Roraima.... do Brasil.

Que nem todo "minerim diverdade" que tem orgulho dos outros mineiros, me orgulho do trabalho do nordestino de Minas, João Vicente, pela materialização de um olhar. Sutil. Diferente. Inovador!

terça-feira, 9 de março de 2010

Teatro Sesc Palmas inicia temporada 2010


"Olá!


O Teatro Sesc Palmas inicia a temporada 2010 com uma grande novidade para o público palmense, em se tratando de produção de dança contemporânea local.

A formação de um elenco primoroso e a proposta de criar um espetáculo de dança contemporânea que desnuda Palmas de forma poética, sob a ótica de novos residentes, foram elementos suficientes para conquistarem o Prêmio Klauss Vianna, da Funarte.

Por tudo isso e pelo que ainda não foi visto, você está convidado(a) a apreciar a nossa Programação Artística, feita para quem adora aplaudir o que é bem feito.
(...)

Abraços,

Luiz Melchiades
Promotor em Artes Cênicas - SESC/TO"

segunda-feira, 8 de março de 2010

ensaio mudo


E o ensaio foi mudo... Sem trilha sonora. Contagem apenas do diretor. E o iluminador cênico se fez presente. E os técnicos do SESC como de rotina, sempre bem-humorados nas labutas. Da véspera. Clayton e Fred a sorrir, papear e botar a mão na massa. E no meio do ensaio, o vulto de Melchiades. Ele, sempre que lá estamos, surge "relâmpago", como forma de dizer que está acompanhando o trabalho e, que, se precisarmos de algo, é só falar. Agora, falta muito pouco. Mas como em tudo na "dualidade terrestre", falta muito. Lacunas sempre existem. E é chegada a hora. Do desvelar dos véu e as cortinas se abrirem...para acontecer de fato o diálogo. Entre palco x platéia. Esta, elemento imprescindível para o fenômeno espetacular. E mesmo nos tempos de agora, enxergo atuais reflexões de Grotowski que abaixo transcrevo:

"Estamos interessados no espectador que sinta uma genuína necessidade espiritual, e que realmente deseje, através de um confronto com a representação, analisar-se. Estamos interessados no espectador que não pára num estágio elementar de integraçaõ psíquica, satisfeito com sua mesquinha estabilidade espiritual, geométrica, sabendo exatamente o que é bom e o que é ruim sem jamais pôr-se em dúvida. Não foi para ele que El Grego, Norwid, Thomas Mann e Dostoiévski falaram, mas para aquele que empreende um processo interminável de autodesenvolvimento, e cuja inquietação não é geral, mas dirigida para uma procura da verdade de si mesmo e da sua missão na vida.

Não satisfazemos o espectador que vai ao teatro para cumprir uma necessidade social de contato com a cultura: em outras palavras, para ter alguma coisa de que falar a seus amigos e poder dizer que viu esta ou aquela peça, que foi muito interessante. Não estamos no teatro para satisfazer sua "sede cultural". Isto é trapaça.

Tampouco satisfaçamos o homem que vai ao teatro divertir-se, depois de um dia de trabalho. Todo mundo tem o direito de divertir-se depois de um dia de trabalho, e há inúmeras formas de divertimento para esse propósito."
(GROTOWSKI, Em Busca de um Teatro Pobre)

quarta-feira, 3 de março de 2010

a arte de viver

...E os derradeiros cartazes são entregues na madrugada de hoje. Entregues pelo próprio autor com mãos sujas de tintas e olhos de ressaca de quem está "imerso" nos afazeres de pré-estŕeia... Dois formatos de cartazes, dois tamanhos. E a obra de arte se aprimora. O que antes, apresentavam duas opções de silhuetas, agora, apresentam quatro. A cada forma, uma nova imagem. A mistura das cores, dos corpos, dos reflexos. A suavidade da cor azul. A mistura que reluz o magenta, a sombra que traz o sol. Pôr-do-sol. De Palmas. E o artista dá notícias dos cubos. E a curiosidade aguça. Minha. Um filho a ser parido para possibilitar a "aparição". Outra. Nova. NA PALMA. Do artista. E as palmas de suas mãos esculpem. Idéias, conceitos, conselhos. Materializam pensamentos e costuram o encontro. O terceiro alicerce. E ontem não teve ensaio. João, tive notícia, iria montar cenário no palco. Inserir o "magenta" no chão. E dos representantes dos parceiros, tive notícia. Priscilla da Celtins a agendar entrevista com Caio. E de Taquaruçu Grande, o complemento das belas visões da terrinha do sol. E as letrinhas brotam dos olhos de quem enxerga belas serras e passa a conviver diuturnamente com "mestres". Do campo! E o verde, continua sendo a cor-maior...a extensão da serra vista no centro da capital. A calmaria dos sábios pré-adolescentes que pisam no chão, plantam, colhem e procuram a escola para aprimorar. Seus conhecimentos. E os ditos chacareiros, participam da educação dos filhos. E os valores da terra diferem das escolas centrais. Alunos que objetivam algo, pisam firme. E fazem! a arte de viver...e ser o que se é...com labor, respeito, dignidade, amor!