
No primeiro dia de espetáculo, ao término, papeei um pouco com RONALDO ARAÚJO, militante do teatro em Palmas que muito representa para a cultura do Tocantins.Ronaldo é ator, diretor teatral, poeta. Sua caminhada no teatro começou na prática, em 1979 na peça "O Cangaço". Depois foi para Rio, fez uma Oficina com Hamir Haddad.Voltou para Fortaleza e montou a peça "Velhos Moços" de sua própria autoria, momento em que se lançou como diretor.Passou por Piauí e montou o "Santo Inquérito" de Dias Gomes, dentre tantos trabalhos montados. Quando mudou para o Tocantins, fundou, juntamente com amigos, o grupo "Gente de Teatro" em Miracema.De lá prá cá, dirigiu e atuou em muitas peças teatrais, rodando pelo Brasil e participando de oficinas teatrais com respeitados nomes do teatro brasileiro. Na literatura venceu editais de poesia e mantém uma página literária na internet que carrega parte de seus textos em prosa e verso.Porque tive vontade de saber um pouco mais de suas impressões, externei a vontade através de email. Acabo de receber dizeres seus, que abaixo publico:
LN: Sei que você é "história viva" do teatro do Tocantins. Pra nós, foi uma grande satisfação tê-lo na platéia no dia de estréia. Nós recém-chegados na capital e poder contar com seus "olhos" e "olhares" no primeiro dia. Poderia nos dizer das suas impressões?
RONALDO ARAÚJO: Então. Gostei muito do espetáculo, e por vários motivos.
Primeiro vocês foram arrojados artisticamente em apostar numa proposta ousada, onde a dança passa a ser uma linguagem aberta para outras possibilidades contemporâneas. Depois, porque conseguiram dar uma estética encantadora à temática escolhida, utilizando-se da dança, da interpretação e da palavra, criando uma dramaturgia coreográfica. Senti falta somente de um diretor de cena. Não sei quem dirigiu e como dirigiu, mas, senti falta do olhar de uma direção de cena.
LN: Na sua opinião, qual o maior entrave para a formação de platéia em Palmas?
RONALDO ARAÚJO: Esse é um problema crônico das artes cênicas em Palmas. Criação de platéia... Para mim, o maior entrave está na pouca produção de espetáculos e na falta de incentivo nas escolas e nas empresas. Palmas é uma cidade anticultural por natureza. Por isso, é preciso esforços redobrados para levar público aos espetáculos. Daí a necessidade de camapanhas e movimentos em prol da formação de platéia.
LN: O espetáculo TORRE NEGRA tem conseguido de forma "guerrida" circular pelo interior do Estado, foi para o Sul do Brasil e agora ruma para o Norte...o que você considera de mais grandioso nessa iniciativa de vocês?
RONALDO ARAÚJO: A coragem e o investimento de cada pessoa envolvida no projeto, pois não contávamos com nenhum recurso e montamos acreditando na importância do produto. Esperar por recursos para poder montar seu trabalho aliena o artista. Creio que é possível montar bons espetáculos pela força dos próprios artistas.
LN: A nossa realidade aqui em palmas, no setor artístico, é ainda de cumprir a terceira e quarta jornada de trabalho, porque ainda não enxergam o "ator" enquanto um profissional qualificado e sim, um "mero" brincador da representação. Sei que vocês do Torre Negra ensaivam de madrugada, porque cada integrante assumia outros compromissos de trabalho. Conosco, no NA PALMA DOS OLHOS, não foi diferente, trocando das madrugadas de vocês, pelo terceiro turno. Nosso! Comente um pouco sobre essa questão da profissionalização do setor das artes cênicas?
RONALDO ARAÚJO:Essa realidade é um pouco cruel e um pouco romântica, pois como podemos observar isso sempre aconteceu no mundo das artes. Artistas têm que se desdobrar, pois precisa lutar para sobreviver e para fazer sua arte, pois nem sempre a arte dá as condições para que seu trabalho flua naturalmente em horários normais, vamos dizer assim. Isso ainda vai continuar assim por muito tempo, mas precisamos lutar por condições adequadas de trabalho. Precisamos nos organizar, dar direção à nossa carreira, enfim, profissionalizar o nosso trabalho, mas, para isso, precisamos estar devidamente preparados como classe reconhecida na sociedade, o que ainda vai levar alguns anos, principalmente aqui no Tocantins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário