
...recordo-me de Rômulo Avelar quando das suas aulas de produção cultural na UNA, nos alertar para o fato de que se deixarmos que um trabalho cultural se restrinja apenas num evento, ele se esvai. Voa como e com o vento. Não deixa substrato. Se transforma em puro entretenimento. "Evento é vento", ele dizia. Carrego comigo essa máxima desde aquela época. Agora, ruminando todo o processo de construção de NA PALMA DOS OLHOS, desde a escrita dos projetos, ensaios, busca de parcerias, até as quatro noites de apresentação e os comentários do público, fico matutando o quanto foi válido ter soprado essa frase aos ventos da terrinha do sol. Um dos objetivos traçados de NA PALMA DOS OLHOS foi que o trabalho não fosse apenas um evento e sim um "processo" com muitos desdobramentos. Isso foi claramente demonstrado aos nosso parceiros quando da proposta. Agora, a resposta da platéia revela o início de um legado cumprido.Um espetáculo para além de um mero produto cultural, um espetáculo enquanto um resultado de "intenções", cujo alvo é a platéia, um espetáculo por não ser simplesmente um espetáculo. Mesmo com falhas, o que é sempre normal, porque imprevistos sempre são passíveis de ocorrer numa produção artística, o trabalho continua seu processo de construção. Talvez porque foge à linha comercial. Não tivemos na platéia, um sucesso em termos de quantidade de pessoas, mas em termos de qualidade, isso é indubitável. Algumas pessoas assistiram e voltaram para assistir novamente, levando alguém consigo. Outras pessoas disseram que agora sim, entendem que dança contemporânea não é aquilo que ninguém entende. Crianças que nunca tinham ido ao teatro, sonham agora em poder pisar no palco. Quando Paolla, Hellen e Ana aceitaram estar conosco para nos auxiliar na produção, pedi a elas que, dentro das possibilidades permanecessem na ausculta e passassem a olhar com outros olhos tudo aquilo que podeira parecer simples. E todas as noites, depois das apresentações, elas me diziam algo que haviam percebido. Na primeira noite, revelaram que até então, nunca tinham visto em Palmas, aplausos da forma que foi. Dizendo elas, as cortinas se fecharam, as pessoas permaneceram sentadas em silêncio. Abissal. Quando abriram as cortinas, as pessoas começaram a aplaudir e mantiveram os aplausos em pé. Nesta mesma noite, me contaram que Paulo, ator de grande talento aqui do Tocantins, disse-lhes que "agora sim, descobri que gosto de dança contemporânea". E ele assistiu ao espetáculo por três noites. Na sexta-feira, Hellen me disse que fez questão de durante o espetáculo passear miudinho pela platéia. Ficou emocionada ao perceber que as crianças da platéia estavam vidradas, maravilhadas, assistindo ao espetáculo. Paolla também comentou que observou o encantamento das crianças. No sábado, elas perceberam que a platéia estava mais fria. E no domingo, houve um salto, mas perceberam que algumas mudanças no que se refere ao próprio trabalho artístico. Há muita coisa que permeia o trabalho...desde o despertar da platéia, os novos olhos para o ofício. E o contentamento é grande. O ciclo de estréia e temporada se fecha e o convite para reuniões se abre. E Monise, no domingo ainda dentro do teatro, já agendou reunião com a Diretoria de Cultura da UFT. E ontem, foi prazerosa a conversa e o almoço com ela, Cellene, Carol, João. E quando cheguei, as primeiras palavras de Cellene foram a materialização de todos os pensamentos que "pipocavam" desde o início do trabalho. E quando a ouvi dizer que tem a pretensão de ações ao infinito, conclui que de fato, nosso trabalho não foi um evento, porque estamos nos fortalecendo com pessoas com objetivos comuns na tessitura e fortalecimento de uma "trama", de uma "rede", onde cada qual, na sua especificidade, talento, profissão, contribui para a construção de caminhos a serem seguidos por outros. Um outro pilar da arquitetura de Palmas...aberto para o encontro. De pessoas, pensamentos, aspirações. A descontruir e construir. O imaginário. Coletivo!
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