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Conversas, cotidiano, artes, fazedors de artes, cultura, cidadania, são temáticas imbricadas no nosso caminhar e, por isso, passarão por aqui. Aberto a contribuição de todas as pessoas sintonizadas conosco... sejam bem-vindos!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

é uma pedreira...








... ... e tudo quando vai tomando forma.... ....
.... vai se transformando. Alterando. A própria forma.
O corpo do ator, do dançarino, sabemos, é uma argamassa a ser moldada. O acúmulo de experiência, vivência, pancada, saltos, tudo isso, fica impregnado no corpo. A memória corporal. De nada adianta, penso, técnicas e mais técnicas do conhecimento formal-científico, se o instrumento de trabalho (o próprio corpo) não perpassou pelos caminhos da vida, suas magias, agruras, aventuras, quedas, conquistas. Não abomino as heranças deixadas pelos grandes mestres que viveram, vivenciaram, criaram, semearam. Em absoluto, não! O que sinto agora, é a "navalha na carne" num corpo impotente que ao longo de três décadas não conseguiu atingir sequer o eixo de equilíbrio. Um corpo que a mente tenta comandar, mas não sai do lugar. Um corpo que tem medo de se esborrachar, que os pensamentos comandam os movimentos, mas ele pirraça, não responde. E não adianta estar ao lado de quem sabe, porque o saber não passa por osmose, o corpo é individual, os ossos não raciocinam. E o mestre joanino ensina, porque sabe, já viveu. É do seu corpo herança ancestral. E com sua leveza, calma, sapiência, diagnostica onde está errado...e conta 1, 2, 3, 4 a demarcar o movimento, a imagem que quer apresentar...mas é uma pedreira colocar "a cara e o corpo à tapa" num momento em que as danças mudernas fogem ao bom senso e levam ao palco corpos de ferro, numa sessão de tortura para os olhos de quem tem nas veias, a sensibilidade, criatividade, idéias e sonhos. É o caso de João Vicente e Carol Galgane. Coitados, coitados, coitados! Percorreram mundo e palcos e o que conseguem fazer em dois segundos, aqui, na "tresmaria solar", gastam 04 meses, pela generosidade e paciência em compartilhar, ensinar e esperar dois corpos-mineiros-paralíticos que não se movem. E o processo fica lento...mas são processos....precisamos de mais ensaios...mas ator não justifica... precisamos de tempo para papear...mas tempo não há... precisamos de cerveja, suor e samba... mas temos que trabalhar... precisamos de agilidade... mas o corpo quer descansar...Tempo, tempo, tempo! para a quarta jornada que "tresmaria" precisa. E tem gente aqui, lá, acolá que se intitula professor de dança, dançarino. E coloca o sobrenome de "contemporâneo" para tapar o buraco-abismo. Aqui, lá, acolá, a mudernidade revela o homem cada mais vez no escuro, com a boca cheia de informações e a cuca vazia de conhecimento. Auto-crítica! Com o ritmo das lesmas, a cidade do sol vai revelando aos forasteiros vindos de Belém, Maranhão, Minas, Goiás, Piauí, que dançar não é brincar de casinha, nem virar cambalhota ou fazer polichinello com caras e bocas vestido com malhas e lantejoulas. Devagarzinho, os raios do conhecimento vão atingindo as rotatórias. Integrais. Os respingos de suor que caem no concreto vão amolecendo o chão quente, quebrando falsos paradigmas, oportunizando escolhas. E não precisa de discursos, currículos, QIs, porque a delicadeza dos corpos no palco é o bastante para a platéia silenciar e as lágrimas rolarem. De rostos aparentemente petrificados. E aí, brota uma esperança, de que a humanidade contemporânea tem essência. Ontem, acreditei por um segundo, que era dia luminoso. Na Escola de Tempo Integral Padre Josimo Tavares ouvi o silêncio e vi as lágrimas da platéia que assistiu as alunas de Carolina Galgane. Era "O Lago dos Cisnes". Uma semente que gerava flor. Das pedras!

2 comentários:

  1. Oh... nem sei viu... aliás sei sim... amo-te muito irmã! Ao ler todas as postagens de uam so vez, pois foi impossível ler aos poucos, ouvia e via você criando... e o som era de uma magia explendorosa que criava imagens na minha retina, marejada de lagrimas nostalgicas que me apontavam cada vez mais o tamanho da saudade.

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  2. E você sabe, Flávio. De alguma forma, em algum lugar, está sempre presente nas criações, quaisquer que sejam. Esperamos vocês na estréia, heim?

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