Quando cheguei em Palmas, vivi um momento atroz, sentindo o não sentir. Até duvidando do que fora buscar. E sempre, na mente, as malas prontas pra voltar. E me encho de alegria por todo o acontecido que nos veio a frente de todo o cansaço do início. Em maio, passamos a morar na mesma casinha, João, Carol, Brenno e eu. Esgotados chegávamos em casa e íamos conversar sobre as impressões da nova cidade que nos abrigava para labutar. Tudo era motivos para nossa "roda de prosa". Sem cadeira, sofá, mesa, TV, talheres, mobiliário, enfim, sentávamos no chão, feito índios e o papo bom acontecia. Da prosa, uma certa ascenção intelectual sobre as nossas dúvidas. O escutar um ao outro, o conhecer melhor um ao outro, trouxe entusiasmo e ânimo para levar à frente a proposta de cada um, que se unificou. O incentivo para ir em frente, em um momento que João já adquirira carteira no postinho de saúde, um momento em que Carol "debilitada" por conta da dengue ouvia impropérios no trabalho de pessoas que acham banal o corpo que clama a dor pelo vírus do aedes. E de "moribunda" Carol transfigurou numa enfermeira e de uma só vez, levou a mim e João para o postinho de saúde. Eu, estreiando uma nebulização porque parecia uma tuberculosa e João sendo batizado pelo mosquitinho anfitrião de Palmas. E os dengosos e "tuberculosa"sentíamos a necessidade da criação. Era início de junho. E projetos enviados para edital do Itáu Cultural e BB. Com parcos tostões para postagem e impressão. Mas a idéia se alimentou, foi solidificando em nós e argamassa enrigecia até tomar outro aspecto, os ensaios. Era agosto. Época em que enviamos o projeto para FUNARTE. E no exato dia do resultado, eu estava de malas prontas pra voltar pras Gerais, porque covarde que sou, não ousaria mais o caminho da terrinha do sol. E curioso é que uma das primeiras falas do espetáculo me foi inspirada na coragem de João e Carol, que me provaram o esforço da mudança. O recomeço de tudo. Num lugar, como em qualquer outro lugar, onde as pessoas paralisam quando percebem que sozinhas ninguém perpetua uma mudança. Ao meu ver, para além de uma obra artística, "na palma dos olhos" significa uma busca de realização, por serem os seus intérpretes-criadores, forasteiros que enfrentaram novos desafios , experiências. Enxergaram em Palmas, parte de um mundo aberto, para abri-lo à medida em que estão se permitindo "destrinchá-lo" com olhos nus. Nâo com a amplitude possível, dada a dificuldade da limitação. No espetáculo, permeiam determinados assuntos que se desencadeiam em outros e mais outros. Então, você pára, pensa e cala. As impressões não revelam o lugar, mas os olhares de quem chegou e já passou por tantos outros lugares antes daqui. Recordo-me dos dizeres de Caio quando assistiu ao ensaio pela primeira vez e pontuou que nalgum trabalho seu de cinema, tratou de questões semelhantes. Enxergou que determinada cena de "na palma dos olhos" trata da indústria cultural e a massificação dos bens culturais. Criar o quer que seja, é limitado. É apenas um recorte, um viés dos olhares sobre algo. Agora, pensando como se deu o encontro dos "tresmarianos" me fez crer que em tudo o que fazemos temos sempre um muito de nós mesmos. Mesmo inconsciente. E não necessariamente estará escancarado. Mas é o que fortalece a criação! E os ensaios retomam essa semana. Malas prontas para o regresso!
domingo, 3 de janeiro de 2010
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